01 dezembro 2009

ADEGA MACHADO : OS FUNDADORES

Por Vítor Duarte Marceneiro

O violista Armando Machado nasceu em Lisboa, em 1899, cidade onde veio a falecer em 1974. Começou a tocar viola nos solares e nas festas em Lisboa e arredores. Em 1924 profissionaliza-se, tendo tocado praticamente em todos os recintos com Fado da época.


Em 1937 fundou a Adega Machado no Bairro Alto, que foi a segunda casa do género no bairro, mas a primeira a dar espectáculos diários.
Foi autor de vários temas musicais para Fado, tais como, Fado Súplica, Fado Cunha e Silva, Fado Licas, Fado Maria Rita, Fado Lourdes e o celebre Bolero Cigano da Fronteira.
Conheceu e casou-se com uma linda moça, Maria de Lourdes, de profissão enfermeira, natural de Lisboa, onde nasceu em 1915, na freguesia do Socorro, tendo falecido também em Lisboa em 1999.
Maria de Lourdes Machado e Armando Machado, tiveram 5 filhos, 4 rapazes e uma rapariga, o Armando José (Licas) que era afilhado do Gonçalves dono do “ O Ginjal” a Maria Rita, era afilhada da Amália, o Filipe teve como padrinho Filipe Nogueira (pai) e o Carlos Manuel foi apadrinhado por Adelina Ramos e seu marido, o António Tomaz Machado, (o Tricas para a família e amigos) era afilhado do artista plástico Tomaz de Melo (TOM) e também da Amália.

Maria de Lourdes Machado abandona a sua carreira de enfermeira para cuidar dos filhos e fica também, ao lado do marido na gerência da Adega Machado, tendo começado a cantar Fado, logo com grande sucesso, pois tinha uma bonita voz, presença e cantava muito bem.
Quando o seu filho mais velho o Armando José (apelidado carinhosamente como Licas), foi mobilizado para o Ultramar, Maria de Lourdes pede a João Linhares Barbosa, que lhe escreva um poema que exprima a sua dor de mãe, que teve o título de (Fé e Coragem Meu Filho). O pai Armando Machado faz a música já referida, Fado Licas.

Armando Machado e Maria de Lourdes foram grandes amigos de meu avô, tendo sido padrinhos de baptizado do meu tio mais velho, Rodrigo Duarte.
Na Adega Machado cantaram todas as gerações de Marceneiro. Houve muitas noites que chegámos a cantar os três, eu, o meu pai, e o meu avô, o dueto “A Lucinda Camareira”, com grande agrado dos presentes, que nos distinguia com calorosas ovações.
A Adega Machado foi a última casa onde meu pai cantou contratado e lá se reformou.

Pela Adega Machado, passaram praticamente todos os grandes nomes do Fado, quer fadistas quer tocadores.

Eu desde muito miúdo que conheço a Adega Machado, fui sempre muito acarinhado por toda a família, que dedicava também grande carinho a meu avô, que era visita diária da casa.
Estive contratado cerca de um ano como segunda ocupação, e era uma das casas que mais frequentava com os meus amigos.
A Adega Machado que tem as suas paredes praticamente forradas com fotos das figuras de relevo de Portugal e de todo o mundo que por lá passaram, o que a torna num autêntico museu de recordações de Fado. Este trabalho iniciou-se pelas mãos de Maria de Lourdes, que possuía um grande sentir iconográfico.

Vitor Duarte Marceneiro
Fonte: http://lisboanoguiness.blogs.sapo.pt/186123.html