31 maio 2009

RESTAURANTE SINAL VERMELHO

Respeitar o sinal

Boa cozinha portuguesa num sinal onde é obrigatório parar e abancar.

José Quitério

Paralela à Rua da Misericórdia (entre esta e a Rua do Norte), ligando a Travessa da Queimada com a Praça Luís de Camões, a Rua das Gáveas foi das primeiras a ser rasgada (século XVI) no que viria a ser o Bairro Alto, em Lisboa. É possível que deva o nome a esse termo naval que designa a plataforma do mastro donde o gajeiro espiava o mar, pois os primeiros residentes foram marítimos da Ribeira das Naus. Nem a antiguidade nem a origem a salvam de um certo ar bisonho, longe do pitoresco das vizinhas. Tem direito, todavia a ser evocada por um dos autores anónimos da colectânea setecentista "Anatómico Jocoso" (1752): "Ah Bairro! Quem te conhecer que te compre; mas tu já estás vendido, porque a todos trazes vendados; (...) tens a Rua da Trombeta, por onde a fama as tuas proezas publica; (...) tens a do Norte, onde se vê se ele corre direito; tens a das Gáveas, onde o gajeiro do apetite ferra o velame do desejo", etc. Com que então, apetite e desejo?!

Não venho trombetear novidade nem desvendar o norte, pois o que encontramos no nº 89 (a fazer esquina com a Travessa do Poço da Cidade, nome este o da tasca que lá houve anteriormente), o Restaurante Sinal Vermelho, foi fundado em Setembro de 1986. Pouco a pouco, os seus obreiros, Victor Castro e César Gil (haviam sido empregados n'A Severa), conseguiram ir aumentando o espaço e fazendo as obras de remodelação até à configuração actual (quase inalterada desde 1993): duas salas praticamente lado a lado, onde os 65 mastigantes gozam de instalação aprazível e amesendação correcta.

A lista fixa regista 13 Entradas, 2 pratos de Ovos, 4 Vegetarianos, 9 Peixes, 2 Bacalhaus, 5 Carnes e 4 Bifes (de vitela barrosã). Variáveis são as 12 Recomendações do Dia, divididas entre peixe e carne, às vezes a irem socorrer-se da parte firme. No conjunto, uma carta de comidas variada e muito apelativa para quem procura cozinha portuguesa tradicional e regional, sem rodriguinhos.
A provar é que a gente se entende. O "dueto de chouriço e alheira de Valpaços com azeitonas" (€6,90), ainda com finas rodelinhas de linguiça, demonstrou, e basta, a elevada categoria das matérias-primas. Bem os "peixinhos da horta" (€5,90), em canudinhos de polme farto mas de feijão verde em presença forte. Sobre o comprido e altura dum dedo magro, equilibradas no bacalhau e na farinha, fritura certa, fofas, deliciaram as três unidades do "prato de pataniscas de bacalhau" (€5,90). Adoptados para a função entradeiras, os "pastéis de massa tenra" (com acompanhamento de arroz de feijão e couve lombarda teriam custado 9,90) mostraram-se de cabal massa exterior e recheio competente, granulado e temperado a contento.
Passando das entradas para os pratos principais, no "magusto de bacalhau assado com migas de broa e couve portuguesa" (€11,90), muito boas estas, a posta de gadídeo a necessitar de menos demolha e mais grelha. Com a reserva de o arroz estar pouco atomatado e algo aguado, excelentes os "filetes de peixe-galo com arroz de tomate" (€12,90), mais uma especiosa salada de canónigos, beterraba, tomate e rebentos de soja. Com o senão da carne a tender para o rijo, comeu-se com suficiente agrado o "ensopado de borrego com pão frito" (€9,90). Igualmente com cenoura e carnes de porco, nem o facto de o chouriço ser de qualidade muito inferior ao da entrada afectou o saboroso teor geral da "feijoada com entrecosto de vitela, lombardo e enchidos regionais à moda de Ponte de Lima" (€9,90). Forte e gostoso, com batatas chips e lombardo cozido por companhia, o "coelho em vinha-d'alhos frito com amêijoas e coentros" (€10,90).
Há queijos, não testados. Os doces andam pela dúzia e os experimentados não desiludiram. Carta de vinhos pujante, dividida por regiões, tudo datado, alguns com descrição e notas de prova: 109 tintos, 34 brancos, 8 verdes brancos, 1 verde tinto, 7 champanhes e 13 espumantes. Serviço atento e amável.
Sem que se possa deixar de mencionar Amélia Rodrigues, cozinheira da casa há 22 anos, neste Sinal Vermelho é gratificante parar, entrar e abancar.

Sinal Vermelho
Rua das Gáveas, Nº 89 Lisboa
Tel. 213 461 252
(fecha Sábados e segundas ao almoço, Domingos e feridos todo o dia)
9:00 Sexta-feira, 20 de Mar de 2009

http://aeiou.expresso.pt/respeitar-o-sinal=f503772

26 maio 2009

BAIRRO ALTO: O BOM EXEMPLO


Dia Europeu dos Vizinhos

“Já não existem laços”

É hoje festejado, um pouco por toda a Europa, do Dia Europeu dos Vizinhos, com o objectivo de cultivar o convívio e desenvolver laços de amizade, rompendo com o isolamento cada vez mais frequente nas cidades.

Maria do Carmo “foi nascida e criada na freguesia do Castelo”, em Lisboa. Apesar de garantir que tem uma boa relação com os vizinhos, lamenta a falta de comunicação que os tempos modernos trouxeram. “Há muita gente aqui que já não conhecemos. As pessoas hoje em dia comunicam menos. Cada um tem o conforto do seu lar e, por isso, já não convive tanto. Antigamente os vizinhos eram mais unidos. Agora o único tempinho que estamos juntos é à hora do almoço quando vamos tomar café”, garante.

O seu vizinho, Alfredo Veloso, partilha a mesma opinião. “As pessoas não gozam nada. Saem do stress do trabalho e, em vez de irem conviver um pouco , para se distraírem, vão para casa. Antigamente havia mais união. Mas hoje até se acabaram os tascos. À medida que os mais velhos morrem, aparece gente que não conhecemos. Não há guerras nem discussões, mas também já não existem laços”. Alfredo Veloso recorda como, há cerca de um ano, foi tão importante a ajuda de uma vizinha. “Fez um ano em Janeiro que tive uma aflição e quem me valeu foi a minha vizinha. Estava a tomar banho na casa de banho e de repente ouço um grande estrondo na sala. A minha mulher tinha desmaiado. Sou um bocado nervoso e fraco nessas situações. Gritei pela minha vizinha de baixo e lá se chamou o 112”.

Já no Bairro Alto ainda existe uma réstia do espírito de familiaridade tão característico dos bairros mais pequenos. A entreajuda ainda impera, assim como o facto de se ‘facilitar’ os vizinhos e os mais conhecidos aquando o pagamento das despesas. Fernando Santos, de 58 anos, é dono de uma mercearia no Bairro Alto hà 29 anos. “Conheço quase todos os meus vizinhos e, de uma maneira geral, dou-me bem com todos. Tenho alguns vizinhos com aos quais sei que posso contar. Ajudam a descarregar o carro com as mercearias. Como diz o ditado, precisamos uns dos outros”, disse. Fernando Santos é viúvo e relembra o apoio incondicional prestado pelos vizinhos na altura em que perdeu a esposa. “Quando faleceu a minha mulher tive um grande ajuda dos meus vizinhos. Em termos de apoio, foram muito importantes”.

Mas nem todos os vizinhos cultivam um bom relacionamento, como é o caso de Francisca Gomes, reformada de 66 anos, que mora há nove anos no primeiro andar da Torre 1 do Bairro do Alto da Eira, na freguesia da Penha de França. Devido a desavenças com o vizinho do andar de cima, há três anos que luta para mudar para outro apartamento no mesmo prédio. “O meu vizinho faz barulho durante toda a noite, grita, arreda coisas. Percebo que ele tem que se movimentar e fazer algum barulho mas também há um horário para isso. Estou a viver um inferno, em desespero porque não durmo”, desabafou. A sexagenária vive ainda sob o medo das constantes ameaças por parte do vizinho, temendo mesmo que estas se tornem realidade. “Ele ameaça matar-me. Tenho medo que ele não descanse enquanto não o fizer. Mas eu não incomodo o senhor. Já dormi muitas vezes na paragem do autocarro para não incomodar os vizinhos todos os dias. Até já pedi acolhimento na esquadra da polícia”, garantiu, visivelmente abalada.

A situação tornou-se tão insuportável que Francisca Gomes pediu ajuda à Câmara Municipal de Lisboa. A solução foi atribuir-lhe um apartamento vago no 10º andar. Contudo, e apesar de ter provido a casa com água e luz, deparou-se com uma realidade bem diferente do que esperava. A casa tem infiltrações, as janelas estão partidas e não abrem e as paredes estão cheias de brechas que ameaçam fazer ruir a habitação. “É a maior das misérias da vida. A minha casa era boa e agora aceitei esta. Com o desespero que andava nem me apercebi das condições em que ela se encontrava. Só no outro dia é que me apercebi. Já não sei o que fazer porque não me dão outra. E também tenho medo de me morar aqui”, lamentou.

Joana Nogueira

DIAS DE MARIA CAXUXA


Todos os dias são dias de Caxuxa


Bruno Horta explica porque é que, de repente, o Maria Caxuxa se tornou o bar mais concorrido do Bairro Alto.

Não é apenas uma opinião. É um facto e toda a gente o pode comprovar. Qualquer que seja o dia da semana, o Maria Caxuxa está sempre composto. E se for sexta ou sábado à noite... passa de composto a estrondosamente cheio. Em três anos e meio de vida, este bar tornou-se um dos mais concorridos do Bairro Alto e sítio de passagem obrigatória para todo o género de pessoas.
Quando se pergunta “porque é que gosta do Maria Caxuxa”, a resposta dos clientes nunca é muito elaborada. Porque é giro, porque tem bom ambiente, porque sim... E quando se pergunta a um dos donos do espaço o porquê do êxito, ficamos quase na mesma: “Não há grandes receitas”, responde.
Talvez não valesse a pena esperar outra coisa. Na cena nocturna, talvez não exista uma razão especial para isto ou para aquilo. As pessoas vão porque gostam de ir e quando vai um português, vão sempre dois ou três.
Ainda assim, insistimos com Paulo Reis, sócio do Maria Caxuxa juntamente com João Gonzalez. Têm os dois 43 anos e há muito tempo que trabalham na noite. Durante vários anos, João dirigiu o Clube da Esquina, outro bar da Rua da Barroca com igual popularidade. E Paulo, que era amigo da casa, passou a ser braço direito da gerência – além de designer gráfico, que era e é a sua profissão principal.
“Quando abrimos o Caxuxa trouxemos alguns clientes do Clube, é certo, mas também soubemos criar o nosso próprio público”, explica Paulo Reis. E que público é esse? De todas as idades e de todos os estilos e tendências, diz. Caras conhecidas não faltam, de gente do teatro, da dança, da música ou da televisão. E que isso também funciona como chamariz, não temos nenhuma dúvida.
O Caxuxa, como é conhecido pelos frequentadores, tem cerca de 100 metros quadrados, o que, não sendo muito, o torna um dos maiores da zona – pois, como se sabe, no Bairro qualquer centímetro de chão com telha dá um bar.
Até Junho de 2005, data da inauguração, funcionava ali uma espécie de tasca com ar pouco recomendável. E antes, ainda, uma fábrica de bolos que fornecia restaurantes da zona – desde 1947, assegura Paulo Reis. Os fornos a lenha e a traça antiga sobreviveram e ainda bem.
Quanto à decoração, admite Paulo Reis, “é incoerente”, com todos os móveis em segunda mão e de estilos muito diferentes. Mas a ideia é mesmo essa. “Sempre quisemos ser uma extensão do próprio Bairro, isto é, ter um ar popular, mas não popularucho”. A música (com DJs ora mais electrónicos, ora mais jazzísticos), as maravilhosas tostas que são servidas até à uma da manhã e a rapidez do serviço (não se fica três quartos de hora à espera que o empregado de balcão se digne olhar para nós) – são outras das razões que explicam o êxito.
Mais: ao contrário de outros bares recentes, o Caxuxa nunca apareceu muito na imprensa. Os donos não dão muitas entrevistas nem apregoam aos sete ventos as festas que de vez em quando organizam.
E isso, ao criar mistério, atrai sempre mais pessoas, pois claro. Não acreditamos que nunca tenha passado para lá. Mas se é esse o imperdoável caso, ainda vai muito a tempo.


Maria Caxuxa. R da Barroca, 6-12. Seg-Sáb, 17h-02h; Dom, 21h-02h.

20 maio 2009

PALÁCIO BRAAMCAMP SERÁ HOTEL DE CHARME


Palácio Braamcamp
300 mil euros de obras em cada quarto do hotel


por MARINA ALMEIDA


Três concorrentes licitaram ontem o palacete do século XIX. A Alutel ofereceu 2,4 milhões de euros e ganhou. Vai investir 5,5 milhões no futuro hotel de charme e pode vir a tentar comprar outro palacete.
Os representantes das três empresas interessadas na compra do Palácio Braamcamp, no Bairro Alto, em Lisboa, viveram ontem momentos de grande ansiedade na sessão pública para alienação do palacete. Entre eles, José Teixeira, gerente da Alutel que acabou por comprar o edifício dos antigos serviços sociais da autarquia por 2,413 milhões de euros - 500 mil euros acima do valor-base de licitação. A obra em cada quarto deverá custar cerca de 300 mil euros, disse ao DN José Teixeira. "Um quarto de um hotel cinco estrelas não custa tanto!", referiu.
O palacete do século XIX será transformado em hotel de charme pela empresa Alutel. Terá entre 20 e 25 quartos e deverá estar a funcionar dentro de ano e meio, referiu o gerente da empresa que estima investir no palácio 5,5 milhões de euros e não põe de parte a hipótese de concorrer a outro palacete (ver alegações finais).
Concorreram à compra do edifício, com 131 anos de história, três empresas do ramo da hotelaria. Uma comissão nomeada pelo vereador das finanças da Câmara Municipal de Lisboa (CML), Cardoso da Silva, presidiu ao acto público. Após apresentação do concurso aos presentes, durante cerca de 20 minutos a comissão analisou em privado as propostas e considerou-as admitidas ao concurso.
O valor de licitação mais alto apresentado nas propostas foi de 2,112 milhões de euros. As outras duas empresas licitaram o palacete por 1,885 milhões de euros. Ontem de manhã, foram feitos oito lanços de licitações, no valor de 37.860 euros. Cada lanço era acompanhado pelos olhares atentos dos representantes das empresas de hotelaria interessadas no edifício. O último a levantar a placa foi José Teixeira quando a licitação estava nos 2,413 milhões de euros. Ninguém mais licitou. O palacete foi então adquirido pela empresa Alutel Limitada, especializada no ramo da hotelaria.
José Teixeira sorria enquanto era felicitado pelos representantes das outras empresas. De seguida pagou uma caução de 10% do valor da compra.
Cardoso da Silva mostrou-se bastante agradado com a venda do palácio. "No orçamento temos um conjunto de investimentos que dependem da alienação do património e, portanto, estas vendas permitem que se repavimentem ruas, que se façam novas ruas e que se faça requalificação do espaço público", disse o vereador.
O Palácio Braamcamp foi o primeiro de cinco espaços que a autarquia entendeu alienar para transformar em hotéis de charme: Palácios Machadinho, Benagazil, Pancas Palha e do Visconde do Rio Seco. Um edifício do Largo Rodrigues de Freitas foi retirado deste pacote, a pedido da Assembleia Municipal de Lisboa, que entendeu que este edifício não deveria ir a hasta pública.
O presidente da autarquia lisboeta, António Costa, considerou que a alienação do palácio por mais 25% da base de licitação demonstrou que "há mercado" para hotéis de charme na capital.
Localizado no coração do Bairro Alto, o palácio onde funcionou a escola francesa e viveu Fontes Pereira de Melo, albergou até 2007, durante mais de 40 anos os serviços sociais da CML. Jorge Trigo, historiador, funcionário da câmara e autor do livro "O Palácio Braamcamp e os seus ocupantes" interrogava-se sobre o destino a dar à placa que indica que ali viveu Fontes Pereira de Melo , que está na fachada. José Teixeira respondeu ontem:"será preservada, evidentemente."

Diário de Notícias, 20 de Maio
http://dn.sapo.pt/inicio/portugal/interior.aspx?content_id=1237852

16 maio 2009

INDIE ROCK CAFÉ


Condomínio privado, rockalhadas públicas

Chama-se Indie Rock Café e é o sítio onde todos os sons pesados se concentram. João Macdonald vestiu uma t-shirt preta e foi até lá.



O Bairro Alto lá se vai transformando devagar em zona de habitação de luxo, mas nem o famoso condomínio privado do Convento dos Inglesinhos consegue espantar a caça e os caçadores. Até aconteceu que quando as obras do polémico empreendimento se aproximavam do fim, começava Carlos Moreira a tratar da decoração de um velho café de esquina, convertendo-o num bar para – usando as imortais palavras de Júlio Isidro -a malta da pesada. O IndieRockCafé, ei-lo hoje em pleno vigor, é um bom vizinho do condomínio privado.
E são todos amigos.
O lugar funciona como uma rádio-pirata que só emite dentro de quatro paredes. As colunas de som estão dominadas pelo rock das últimas três decadas (Carlos declarou o espaço, para os estrangeiros perceberem, como um "Iegendary alternative sound, gallery and snack bar") e, quando não são os consagrados reverberando as cores vermelhas e pretas (mais anarquista a decoração não poderia ser) que embelezam o lndie, é porque se está a ouvir a maquete de alguma banda nova. O bar alcançou o estatuto de posto de escuta público das novas produções rock de Lisboa e arredores. Não poucas vezes acontecem mini-concertos, dos mesmos neófitos musicais, e exposições. Até 14 de Maio está lá, por exemplo, "Fuga", uma vídeo instalação de João Cáceres Costa que diz no subtítulo "não aconselhável a pessoas sensíveis" (não contamos mais, é melhor confirmar no local).

A grande aranha e respectiva teia que ocupa o tecto vigia sinistramente a agitação. Em torno das mesas, cujos tampos trazem­-nos visões fanzinescas da história da música - uns Clash e uns Madness ali, uns Rádio Macau e uma Patti Smith aqui, uns Ramones e uns Sex Pistols acolá-, a mais novel geração de tribo rock consome cervejas, exibe moicanos e t-shirts dos Alien Sex Fiend e dos Motorhead (e, não podia deixar de ser, dos Joy Division). Carlos observa e dá assistência ao povo com bonomia e dedicação. Ele sabe que está no caminho certo.
O caminho arrancou quando ele tinha 18 anos e organizava festas alternativas na Linha de Cascais. Dar música à malta estava -lhe já muito na natureza, tal como as artes visuais. Saído da Escola António Arroio para o curso de restauro das oficinas da Fundação Ricardo Espírito Santo, o homem activou os seus talentos plásticos na altura em que os concertos e os bares multiplicavam-se em Lisboa. Vejam lá: serigrafista, executante de ti-shirts para as grandes bandas estrangeiras que vinham a Portugal e vitrinista, da Warner, Valentim de Carvalho e BMG, entre outras, trabalhou com os Mler Ife Dada e os More República Masónica. Fez de tudo um pouco em sítios que já não existem mas que fizeram história no Bairro Alto, como o La Folie ou o Rookie. E agora aqui está ele, por fim com o seu próprio bar e dedicado agente cultural.
Agente cultural mesmo: o rock agita -se no Indie, mas Carlos está a tratar de lançar este ano ainda uma extensão, também junto aos Inglesinhos. Vai reabrir o outrora intitulado BA, um magnífico e amplo espaço ao lado do convento. Haverá cinema, actividades para criança, música, stand-up, exposições, restauração. O rock'n'roll dá ideias para tudo.


lndie Rock Café. Travessa dos Inglesinhos, 49. Aberto todos os dias do ano das 22.00 às 02.00.

13 -19 Maio 2009 Time Out Lisboa

10 maio 2009

RESTAURANTE AS SALGADEIRAS

A força do destino

José Quitério

Destino atractivo e compensador com lista diversificada.

Quase no limite sul do Bairro Alto, a Rua das Salgadeiras liga a Rua da Atalaia e a Rua do Norte nos respectivos começos. Quanto à origem do nome, entre os olissipógrafos a doutrina não é pacífica (expressão muito acarinhada nas antigas sebentas jurídicas coimbrãs). Norberto de Araújo (1889-1952) aponta vagamente "ainda uma evocação da borda de água" (tal como no caso, segundo ele, da Rua das Gáveas, por terem sido os marítimos da Ribeira das naus os primeiros a habitar o que viria a ser o Bairro Alto). Diversa é a opinião de Gustavo de Matos Sequeira (1880-1962), para quem se trata mesmo das plantas chamadas salgadeiras, "comummente empregadas para fixar terras movediças em barrancos", como aqui acontecia então. Seja como for, a "serventia transversal, curta e inexpressiva" do tempo de mestre Norberto tem hoje galerias de arte, lojas de culto, paredes alarvemente borradas por falsos grafitos e este restaurante aonde vamos, chamado também ele As Salgadeiras.

Inaugurado há cinco anos, ocupando o espaço do que foi uma padaria, pode gabar-se da recuperação do tijolo-burro e da pedra de arcos e paredes, bem como dos dois fornos, um transformado em salinha ideal para casais arrulharem. Mesas de aparelhamento muito cuidado, cadeiras de couro onde se podem sentar 40 dentaduras, ambiente desafectadamente distinto.
A lista é suficientemente diversificada e está assim dividida e quantificada: 12 Entradas, 6 Pratos do Fiel Amigo, 10 Pratos de Peixe, 8 Pratos de Carne e 5 Bifes do Lombo. Ainda antes de entrar por elas, referência aos "pastéis de bacalhau" (mencionados na alínea do couvert, €2 a unidade), de competentes doseamento, textura e fritura. Propriamente das Entradas, que abrangem sopas e saladas, passaram-se quatro umbrais. A "sopa de peixe à Salgadeiras" (€11,50), daquelas que vêm tapadas por massa folhada, aliás louvável, exibiu-se em creme espesso, com abundantes filamentos de cherne e de tamboril e camarão esparso, bem temperada e saborosa, no género nutritivo. Assente em pão frito, de miscigenação feliz, frio, o "tártaro de polvo" (€7,15) foi bom trato do povo. Simplesmente salpicado por fragmentos de pimentos vermelho e amarelo, mais um fio de azeite e hortelã ornamental, o "carpaccio de bacalhau" (€7,25) atingiu o desiderato. Interessantes os "mexilhões salteados" (€10,25), conquanto sobressaíssem alho e azeite.

Dos Bacalhaus, onde também figura uma sopa, colheu-se o "bacalhau à Zé do Pipo" (€18,75): executado consoante a receita canónica e como tal de resultado e aspecto apetitosos, apenas a junção duns pickles com o respectivo avinagrado lhe macularam o brilhantismo total. Extraíram-se dois números dos Pratos do Peixe. De recheio estimável e genuíno puré de batata, deram boa conta de si as "lulas recheadas à Salgadeiras" (€14,95). No "filete de linguado em massa folhada com espinafres" (€17,95) reconheceu-se a correcta feitura e a companhia exquise (pétalas de rosa verdadeira), verificando-se, todavia, que o linguado em si (talvez sim com outro peixe) não é favorecido com este acomodamento. Dos Pratos de Carne, em que há outros preparados de porco, de vitela e borreguinho, abordaram-se "migas de espargos bravos com lombinhos de porco" (€13,95), conjunto agradável, e "cabrito à moda de Monção" (€19,75), assado no forno, vencedor em todos os aspectos, incluindo o acompanhamento de batatinhas e castanhas assadas e esparregado. Deixaram-se os bifes de lombo em sossego, como a linda Inês.
A doçaria apresenta-se em octeto apreciável, com variação no chamado "doce de ovos conventual" (€6,25) e que num dos dias calhou ser o "fidalgo", primoroso. Carta de vinhos por regiões, sem datas, registando 68 tintos, mais 16 ditos da Garrafeira (estes datados), 19 brancos, 6 verdes brancos, 4 champanhes e 2 espumantes, com muitos a copo e excelente serviço vínico. Igualmente competente e amável o restante serviço.
Cozinha-se bem por aqui e o envolvimento contribui para o bem-estar (não obstante o preçário um bocadinho salgado), pelo que As Salgadeiras é destino atractivo e compensador.

As Salgadeiras
Rua das Salgadeiras, 18LisboaTel. 213 421 157 (Só serve jantares; fecha às segundas)

8 de Mai de 2009
http://aeiou.expresso.pt/a-forca-do-destino=f512569

06 maio 2009

A PERDER POSTOS DE TRABALHO

Lisboa, 27 de Abril de 2008

CARTA ABERTA À ASSEMBLEIA DA FREGUESIA DA ENCARNAÇÃO

Exmos. Senhor Presidente da Assembleia de Freguesia da Encarnação
Exmos. Senhores e Senhoras

Dirijo-me a esta Assembleia na qualidade de representante da empresa, ESQUADRA, Industrias Hoteleiras, Lda. Firma criada à 20 anos e iniciando a sua actividade à 19 anos nesta freguesia.
A ESQUADRA, Industrias Hoteleiras nunca teve nenhum tipo de reclamação desde que há memória, é uma empresa certificada pelo IAPMEI e que até Outubro do passado ano tinha 3 postos de trabalho, 2 com contracto sem termo e 1 com contracto a termo e mais dois postos de trabalho indirectos, ou seja, 5 postos de trabalho.
Esta empresa com a sua actividade na Rua da Rosa, possuía um horário de porta das 22:00 horas às 4 da manhã, horário esse que só uma pequena parte do comércio de bebidas do Bairro Alto, possuía.
Entretanto no final de Outubro de 2008 é anunciado publicamente pelo Sr. Presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Senhor António Costa o despacho que estabelece os novos horários para o Bairro Alto, obrigando esta casa comercial a fechar às 2:00 da manhã, mais uma medida politica com um fundamento nobre, mas cega que faz o justo pagar pelo pecador.
O despacho dá a possibilidade de alargar o período de funcionamento, desde que esse pedido seja acompanho por um parecer favorável da respectiva Junta de Freguesia.

Devido ao facto do horário ter sido forçosamente reduzido nas horas de maior volume de negócio, tivemos que dispensar um posto de trabalho em Novembro, tendo a esperança que brevemente obteria o prolongamento de horário, visto que no dia 7 de Novembro de 2008, deu entrada nesta Junta de Freguesia o pedido de parecer e que o Código de Procedimento Administrativo no seu artigo n.º 99 concede um prazo de 30 dias para a sua resposta. Devido à demora na resposta por parte deste Órgão Administrativo e da facturação ter caído aproximadamente 60%, fomos obrigados a dispensar o segundo posto de trabalho em Dezembro de 2008.

Depois de sucessivas idas à secretaria da Junta de Freguesia da Encarnação, pelo menos cinco vezes entre Novembro de 2008 e Abril do corrente ano. As primeiras vezes, responderam-me que tinha que aguardar, pois primeiro tinham que avaliar o nosso comportamento.
Em meados de Dezembro de 2008 recebemos uma carta desta Junta de Freguesia, assinada pelo seu tesoureiro e responsável pelo pelouro, Senhor Domingos Alvarez, que sumariamente informa que a Junta de Freguesia iniciará o processo de reapreciação dos pedidos, que foram enviados pele CML e/ou entregues na respectiva Junta de freguesia, a partir de Janeiro de 2009.

Como consequência da ausência de resposta por parte desta Junta de Freguesia, no dia 12 de Março peço uma marcação de audiência com o Senhor Domingos Alvarez, estando até ao dia de hoje à espera.
Este mês perdeu-se o terceiro posto de trabalho, estando em risco a própria empresa e a sobrevivência de quem ainda lá trabalha.
No próximo fim-de-semana, a casa comercial praticamente em frente àquela que eu estou a representar, vai já estar aberta até ás 3:00 horas aos fins-de-semana e vésperas de feriado, pelo facto dessa casa comercial estar na Junta de Freguesia de Santa Catarina, que já começou a dar os pareceres.

Deixo as seguintes questões:

· Estando o país, desde a direita até à esquerda, preocupados com o flagelo do desemprego, que só aumenta a crise social e financeira que já se vive, então, até quando, esta politica de desemprego e falência de pequenas e microempresas na freguesia?

· Qual é o motivo que leva ao executivo da Junta de Freguesia da Encarnação, a não respeitar o Código de Procedimento Administrativo, agravando a gestão das empresas.

· Sendo as Jutas de Freguesias, a luz da nossa Constituição, o Órgão Administrativo que representa TODAS as forças vivas da sua área, então, porque não cede uma audiência a um comerciante da freguesia?
Desejando a todos e a todas as pessoas presentes nesta Assembleia uma boa noite

Pela Esquadra Industrias Hoteleiras, Lda.
Rui Paulo

05 maio 2009

O BAIRRO VISTO DA BRASIL

Tour lisboeta

Lisboa é uma cidade que deixa as pessoas à vontade, testemunha a leitora Vanessa Mainardi na contracapa da edição de hoje. A página traz uma novidade: os relatos dos leitores da seção Eu Estive Lá se unem às fotos do Seu Olhar e formam, a partir de agora, um espaço único, reunindo mais informações sobre o mesmo destino.

A noite fervilha em Lisboa. O lugar é o Bairro Alto, o mais tradicional da cidade quando alguém pensa em agitação. Há séculos se tornou o lugar com maior concentração de bares e restaurantes. As ruas estreitas, às vezes muito estreitas, são pequenas para abrigar a multidão que as colore, principalmente nas noites de sexta-feira e sábado, quando andar por ali é exercitar a paciência e a admiração.No Bairro Alto, a frequência é de pessoas de todas as idades e estilos. Não é um reduto de fãs do fado ou unicamente de jovens chegados ao rock. Desde aquele bar calmo, com um piano fazendo música de fundo, até o mais agitado, tudo está presente, numa harmonia que parece irreal.
Durante o dia, o bairro é um local de comércio, principalmente de roupas, inclusive vestuário de segunda mão.Já a Baixa é considerado um lugar especial na vida da cidade. Centro privilegiado de comércio, é também um dos melhores passeios de Lisboa. Do Rio Tejo, seguindo pelo Terreiro do Paço até o Rossio e da Sé até o Chiado, é considerado pelos portugueses como a base da identidade de Lisboa. Foi um dos mais atingidos pelo grande terremoto de 1755 e reconstruído com orientação do Marquês de Pombal. A Rua Augusta é um de seus pontos mais famosos, por sua animação, e uma das principais vias da região, junto ao Elevador de Santa Justa, que conduz às ruínas do Carmo.
No vizinho Chiado, o comércio é forte, mas sobretudo a vida cultural é que está mais presente, com muitas livrarias e cafés, pontos que já foram frequentados pela intelectualidade portuguesa, artistas e escritores como Almada Negreiros, Eça de Queiroz e Fernando Pessoa. É lá que está um dos destaques da vida noturna de Lisboa, o tradicional café A Brasileira.Outro ponto alto da animação na cidade é a Zona Ribeirinha, com destaque para a Avenida 24 de Julho e a Zona de Santos. E também as Docas, em Alcântara e Santo Amaro. Desde que sua escolha não seja por restaurantes e ambientes sofisticados, a vida não é cara. Um jantar ou almoço pode sair por 15 euros (R$ 45). Uma cerveja estilo imperial (uma tulipa pequena) custa 2,5 euros. Refrigerantes e água mineral custam, em média, dois euros.



http://zerohora.clicrbs.com.br/zerohora/jsp/default2.jsp?uf=1&local=1&source=a2498193.xml&template=3898.dwt&edition=12248&section=1038